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Ser LGBTQIAP+ na Tailândia

 Como é realmente ser LGBTQIAP+ na Tailândia? 


Graças à globalização, cada vez mais pessoas estão a descobrir o mundo das séries tailandesas BL/GL onde podem observar uma grande representação LGBT. Independentemente de fazerem ou não parte da comunidade, muitas delas se questionam: será o modo de vida não-hétero assim tão comum na Tailândia? Será que é realmente visto como normal? Ser LGBT na Tailândia é melhor do que no seu país?

Estes tipos de questões fazem sentido tendo em conta o modo casual como pessoas e casais Queer aparecem na televisão e meios de publicidade tailandeses. Mas desligando um pouco o ecrã e passando para a vida real: será assim tão simples e feliz fazer parte da comunidade abertamente neste país asiático?

Na verdade, para um tailandês comum há diferenças entre aquilo que ele vê como entretenimento (ou de outra maneira, parte do domínio do fantástico), a realidade do outro e a sua própria realidade. À luz dos dois primeiros pontos, é declarado que ser LGBT não é problemático de todo. Porém, quando se trata de uma realidade própria ou familiar, os tailandeses, infelizmente, tendem a mudar de opinião e a não tratar a pessoa Queer próxima de um modo normal. Ou no caso de se tratar deles próprios, podem querer lutar contra a sua natureza. Ao procurar fazer com que eles ou outros mudem quem são, revelam no fundo o seu preconceito e discriminação, algo que superficialmente ninguém diria que tivessem.

Não há dúvidas que ser LGBT na Tailândia é melhor hoje do que há meia dúzia de anos atrás e que a emergência e o sucesso da sub-cultura Yaoi/Yuri (também chamado mundo BL/GL) está a contribuir muito positivamente para o processo. Em 2019 um estudo conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) propôs várias questões para pessoas LGBT: mais de metade afirmaram terem sido vítimas de assédio verbal, 16% admitiram ter sofrido assédio sexual e 40% disseram ter que fingir que são héteros para serem aceites na família, trabalho ou escola.

É importante lembrar que a sociedade tailandesa é regida pelo budismo sendo essa a religião da maioria da população. O budismo não condena nenhum tipo de identidade ou comportamento sexual, o que ele faz é justificá-lo com base na lei do Karma: a pessoa é LGBT porque na sua vida passada cometeu erros, logo a sua existência faz sentido. E qualquer pessoa que nesta vida seja hétero pode numa próxima não o ser e, por essa razão, todos devem se respeitar. Mas não será revoltante a ideia perpetrada de que ser LGBT é um castigo por se ter sido má pessoa noutra vida? É com essa ideia que os queer tailandeses são confrontados e muitos acabam por acreditar nela.

Ao contrário do que acontece no mundo ocidental, na Tailândia os termos género e sexualidade são muitas vezes confundidos e tornam-se sinónimos. Este facto também se relaciona com as escrituras budistas onde numa delas se afirma a existência de quatro géneros entre eles, homossexual e transsexual. Neste sentido pode-se imaginar as diferenças culturais entre o discurso LGBT na Tailândia e o mesmo tipo de ideias numa cultura ocidental. Felizmente, estas diferenças tendem a ser diluídas pois os tailandeses de hoje são muito mais cidadãos do mundo e estão, muitas vezes, mais ligados a ele do que ao seu próprio país.

No entanto, há razões para sorrir: nunca se discutiu tanto a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo no parlamento tailandês como em 2022. O que significa que há uma boa probabilidade de ela ser uma realidade dentro dos próximos anos. Para este fim, as séries, principalmente BL, tendem a mencionar sucessivamente e desde logo a criticar a inexistência da lei no país.

Em conclusão, a Tailândia está longe de ser um dos piores países para a comunidade LGBT. Diria até que está de braços abertos à diversidade e por isso há liberdade e segurança para cada um ser como é. O que é preciso ter em conta é que não é o “paraíso gay” como muitas capas de revistas gostam de chamar. Tal slogan serve apenas para atrair turistas. Se assim fosse, os LGBT locais não teriam de lutar tanto pelos seus direitos dentro de uma sociedade ainda conservadora e regida por um governo completamente desalinhado das necessidades da população.

Citando o ativista Sirisak Ton Chaited (elu/delu) (IG:siritonposh)

A religião é geralmente usada como uma ferramenta de segregação e, na maioria das vezes, é a raiz da discriminação (...) Uma questão sistémica incorporada em quase todas as sociedades, incluindo a nossa.

Casais LGBT+ recebem certificados reconhecendo os seus relacionamentos, mas sem qualquer valor jurídico.